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A Inovação Estrutural do Eucalyptus globulus: Potencial do LVL em Vigas Glulam Híbridas


Num contexto em que as alterações climáticas e a escassez de matéria-prima proveniente de resinosas tradicionais impõem novos desafios ao setor da construção, a madeira engenheirada de espécies folhosas ganha um protagonismo renovado. Entre estas, o Eucalyptus globulus – espécie dominante nas paisagens florestais de Portugal – tem demonstrado um notável potencial para aplicações estruturais, desde que processado em soluções tecnologicamente adequadas.

Uma dessas soluções é o Laminated Veneer Lumber (LVL), um produto composto por lâminas finas de madeira coladas entre si, tradicionalmente usado em substituição de madeiras maciças por apresentar propriedades mais homogéneas e previsíveis. O estudo conduzido por Martins e Dias (2025) constitui um marco relevante nesse campo, ao investigar o desempenho do LVL produzido a partir de Eucalyptus globulus e o seu uso em vigas glulam híbridas em conjunto com madeira de choupo (Populus spp.).

Desempenho Mecânico do LVL de Eucalyptus globulus

Produzido com lâminas de 2,2 mm de espessura, o LVL testado revelou um módulo de elasticidade global médio de 22 GPa e uma resistência à flexão característica de 72,1 MPa na configuração edgewise. Este desempenho supera o da madeira serrada estrutural da mesma espécie e aproxima-se das classes de resistência superiores como a D70, de acordo com a EN 338. Apesar de algumas limitações nos ensaios de colagem (com falhas ligeiras observadas), os resultados laboratoriais superaram os desafios técnicos previamente associados à colagem desta madeira densa.

Aplicação em Vigas Glulam Híbridas

Explorando o potencial do LVL como lamela externa em vigas glulam híbridas, os autores fabricaram dois tipos de vigas:

  • HLVL-BP: configuração simétrica com LVL nas zonas de tração e compressão e três lamelas internas de choupo;

  • HLVL-4BP: configuração assimétrica com LVL apenas na zona de tração.

Os resultados foram notáveis: a primeira configuração atingiu um módulo de elasticidade global médio de 19,7 GPa e resistência à flexão característica de 71 MPa, enquanto a segunda obteve 13,6 GPa e 57,9 MPa, respetivamente. Estes valores colocam ambas as configurações como soluções competitivas no mercado de estruturas em madeira, oferecendo não só desempenho mecânico, mas também uma abordagem mais sustentável, ao combinar uma espécie subutilizada (choupo) com outra de maior densidade.

Relevância e Perspetivas Futuras

Os dados confirmam que o LVL de Eucalyptus globulus pode não só competir com madeiras folhosas mais consagradas como a faia (Fagus sylvatica), mas também contribuir para a valorização de recursos florestais locais. A sua aplicação em estruturas híbridas permite aproveitar as qualidades específicas de diferentes espécies, otimizando a relação entre desempenho, sustentabilidade e viabilidade económica.

A continuidade destes estudos – nomeadamente com maiores amostragens, aplicação de juntas dentadas e colagens industriais – poderá consolidar o caminho para uma utilização mais ampla desta solução no contexto da construção sustentável.

Referências Bibliográficas

Alvite, L., Touza, M., & Arriaga, F. (2020). Blue gum: Assessment of its potential for glued laminated timber beams. Construction and Building Materials, 244, 118347. https://doi.org/10.1016/j.conbuildmat.2020.118347

Balboni, L., Branco, J. M., & Cruz, H. (2023). Microwave treatments and their effects on selected properties of Portuguese maritime pine and eucalyptus wood. Forests, 14(8), 1671. https://doi.org/10.3390/f14081671

Martins, C., & Dias, A. M. P. G. (2025). Bending properties of LVL made by Eucalyptus globulus Labill. and its potential for hybrid glulam beams. European Journal of Wood and Wood Products, 83, 97. https://doi.org/10.1007/s00107-025-02244-w

Suleimana, A., Sena, C. S., Branco, J. M., & Camões, A. (2020). Ability to glue Portuguese eucalyptus elements. Buildings, 10(7), 133. https://doi.org/10.3390/buildings10070133


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