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Foto do escritorJoão Alves

CLB-MCS 2018 3º Congresso Luso-Brasileiro Materiais de Construção Sustentáveis Coimbra

Atualizado: 19 de fev. de 2023

O 3º Congresso Luso-Brasileiro Materiais de Construção Sustentáveis (CLB-MCS 2018) será realizado em Coimbra, Portugal, de 28 a 30 de novembro de 2018. O evento tem como objetivo reunir profissionais e acadêmicos da área de materiais de construção sustentáveis para discutir e compartilhar conhecimentos sobre o tema. O evento abordará temas como materiais de construção sustentáveis, tecnologias de construção sustentável, desenvolvimento de produtos sustentáveis, avaliação de desempenho ambiental, gestão de resíduos e reciclagem. Além disso, o evento também abordará questões relacionadas às políticas de construção sustentável, às práticas de construção sustentável e às iniciativas de construção sustentável. O evento contará com palestras, mesas redondas, sessões de trabalhos e apresentações de trabalhos. O evento também contará com uma exposição de produtos e serviços relacionados à construção sustentável.


A Arquitetura Vernácula em madeira, como premissa da construção contemporânea de Madeira

João ALVES1*, Mónica ALCINDOR2, Luis PACHECO2

2:Escola Superior Gallaecia

Largo das Oliveiras 4920-251 V. N. Cerveira

esg@esg.pt, www.esg.pt

Palavras-chave: Arquitetura vernácula, construção em madeira, sequestro do carbono, construção sustentável

Resumo Arquitetura vernácula é um verdadeiro reduto de racionalidade, representa a sabedoria ancestral, em que as soluçõespropostas são o resultado de séculos de empirismo. Estas soluções arquitetónicas são soluções adaptadas ao clima e cultura de cada região, adequando-se aos materiais e ao meio ambiente envolvente. São princípios necessários rever, para uma arquitetura mais racional. A Arquitetura vernácula em madeira utiliza técnicas de construção de uma conceção simples e com recursos tecnológicos muito básicos. Tecnologias com qualidades e características que se podem utilizar numa construção contemporânea responsável.

Os edifícios consomemmais de 40% do consumo de energia e 36% de CO2 na Europa. É neste contexto, que a construção em madeira pode ser a resposta para edifícios mais eficiente, com a principal premissa: a energia mais barata é aquela que não se consome.

Em conclusão utiliza-se a frase do Professor Alex de Rijke “If the 19th century was the century of steel and the 20th century the century of concrete, then the 21st century is about engineered timber”,para enfocar a evolução das estruturas em madeira e as suas várias vantagens da sua utilização: no conforto, eficiência energética, ciclo de vida, durabilidade, resistência, etc. Confere-se às estruturas em madeira a resolução da problemática da sustentabilidade da construção.

  1. INTRODUÇÃO

1.1. Objetivos

Este estudo foi realizado no âmbito de uma investigação académica da Escola Superior Gallaecia. Tem o propósito de dar a conhecer varias técnicas de arquitetura vernácula em madeira, mostrar o seu potencial na problemática do conforto energético, redução de CO2 e na análise de ciclo dos edifícios. Mostrar vários exemplos da sua aplicabilidade na arquitetura contemporânea.

1.2. Premissas da arquitetura vernácula na arquitetura contemporânea

As premissas da Arquitetura Vernácula ainda são validas na arquitetura contemporânea: na rentabilização de recursos naturais do meio envolvente; nas soluções adaptadas ao clima e cultura da cada região; na adequabilidade aos materiais e os espaços ao meio ambiente envolvente, preservando a identidade do edificado e a memória coletiva de um povo. Acha-se importante um olhar às técnicas usadas nessas construções, pois são um legado ancestral com características únicas, que fizeram com que a maioria dos edifícios tenham sido preservados centenas de anos, só vindo a sofrer degradação quando existe o abandono ou não há uma adequada manutenção do edificado.

1.3. A evolução que indústria dos derivados da madeira

É também, pertinente olhar para a evolução que indústria dos derivados da madeira experimentou neste século, que se tornou numa corrente de opiniões, uma declaração frequentemente citada: “se o século XIX foi o século do ferro e o século XX foi o século do betão armado, então o século XXI é o século dos produtos derivados da madeira” (Rijke, 2015). Essa evolução está a mudar a forma como se observa e se valoriza as estruturas de madeira, ao reconhecer as muitas qualidades singulares que a madeira oferece, à qualidade dos edifícios. Sendo entre muitas, as suas excelentes qualidades térmicas, que permitem dar resposta a normas cada vez mais exigente na eficiência energética dos edifícios.

1.4. nZEB e as construções de madeira

Os edifícios consomem mais de 40% do consumo de energia e 36% de CO2 na Europa. Existindo um potencial significativo na economia de energia e redução de emissões de CO2 nos edifícios novos e existentes. Tendo a diretiva sobre Energy Performance in Buildings (EPBD) introduzido, na sua revisão em 2010, os conceitos de nível ótimo de rentabilidade e de nZEB (edifícios com necessidades quase nulas de energia). É nesta conjetura, que se vê na construção de madeira com as suas várias técnicas construtivas, soluções ótimas para a sua aplicabilidade arquitetura contemporânea.

  1. Contribuição técnica/científica

2.1. A arquitetura vernácula na construção contemporânea responsável

A arquitetura vernácula de madeira é executada com técnicas de construção de uma conceção simples e com recursos tecnológicos muito básicos. Verifica-se a utilização de madeira maciça de pinho bravo (pinus pinaster) em todo o edifício: na estrutura dos pisos, tetos, coberturas e paredes. Nos tetos revestidos a gesso e nas paredes revestidas com argamassa de terra, cal e gesso. Tecnologias com as suas diferentes qualidades e características que podem ser usadas na hora de intervir no edificado: quer seja no restauro, reabilitação ou numa construção contemporânea responsável sustentabilidade

2.2. A conjuntura da legislação nZEB em Portugal

O cumprimento de requisitos energéticos dos edifícios encara com normas cada vez mais exigentes, tendo a União Europeia estabelecido um enquadramento geral o nZEB - edifícios com necessidades quase nulas de energia e introduzido a análise do custo do ciclo de vida dos edifícios (Decreto-Lei n.º 118/2013 de 20 de agosto do Ministério da Economia e do Emprego, 2013). Segundo o presente diploma o nZEB: são edifícios com necessidades quase nulas de energia os que tenham um elevado desempenho energético e em que a satisfação das necessidades de energia resulte em grande medida de energia proveniente de fontes renováveis, designadamente a produzida no local ou nas proximidades. O presente diploma estabelece que os edifícios novos tem de ser nZEB após 31 de dezembro de 2020 e após 31 de dezembro de 2018 no caso de edifícios públicos.

2.3. A madeira é feita pelo sol

Se se partir da premissa: a energia mais barata é aquela que não se consome. Sendo a madeira por excelência o material da construção, que tem as melhores prestações térmicas é deducional, que se necessite menos isolamento, para se obterem edifícios energeticamente mais eficientes. Isto indica, que se pode ir além dos mínimos que as normas exigem. Sendo madeira também o único dos principais materiais da construção que é feito pelo sol e é completamente renovável implica, na análise do ciclo de vida dos edifícios, um forte contributo de sustentabilidade da construção.

  1. Estado da Arte

3.1. O conhecimento do precedente na hora para intervir no presente

SHá vários autores que defendem o pressuposto de que é necessário o conhecimento do precedente, para intervir no presente com uma arquitetura mais racional. Javier Cenicacelaya & José Baganha realçam isso num artigo de opinião “Arquitetura tradicional e sustentabilidade” onde vêm a arquitetura vernácula como o verdadeiro reduto de racionalidade, expondo um texto revelador sobre a importância do precedente na hora de intervir no presente, (Cenicacelaya & Baganha, 2004). A ECOATKITET enlaça a Arquitetura Vernácula como a base dos princípios hoje válidos para a Arquitetura Bioclimática, a Construção Sustentável, a Arquitetura Solar Passiva, a Eco-Arquitetura, a Arquitetura Ecológica, entre outras (Ecoarkitekt, 2009). O projeto VERSUS: Lessons from Vernacular Heritage to Sustainable Architecture, entre os seus principais objetivos visa valorizar o conhecimento sobre os princípios fundamentais do património vernáculo, bem como, explorar novas formas de integração desses princípios numa arquitetura mais eco-responsável, (Guillaud, Moriset, Sánchez, & Sevillano, 2014). Daqui se epiloga as conjeturas da arquitetura vernácula, na valorização da arquitetura contemporânea.

3.2. Reféns da tecnologia imposta

A autora Mónica Alcindor defende, na sua tese de doutoramento, “La Rehabilitación limitada: el caso de las intervenciones de adaptación a los criterios de habitabilidad actual de edificaciones rurales construidas con técnicas históricas, aisladas o dentro de pequeños núcleos urbanos del Baix Empordà”, na necessidade dos arquitetos serem doutos e os principais interlocutores das intervenções no património edificado. Serem conhecedores das várias técnicas construtivas, por forma a não deixar esquecer nem cair em desuso técnicas ancestrais, que se comprovaram eficazes ao longo de séculos. Deve-se compreender o contexto tradicional local e deixar-se de estar reféns, das técnicas construtivas que a indústria da construção preconiza (Alcindor, 2011). A autora chama assim a atenção sobre os perigos dos conceitos de reabilitação, estarem ditados pelos valores económicos e não pela preservação da memória coletiva. Na mesma linha de pensamento, mas numa perspetiva diferente Nuno Almeida, no seu artigo de opinião publicada no jornal o Público “Fachadismo: a morte da (autenti)cidade de Lisboa” critica as intervenções nos centros urbanos, ditadas por normas que incentivam o esventramento das estruturas existentes e a manutenção de fachadas, o que está a levar a uma cidade sem identidade (Almeida, 2017). Este autor é da opinião que arquiteto tem que assumir um papel mais proactivo, não se opondo que a cidade assuma uma linguagem mais contemporânea, em detrimento de uma preservação descabida de contexto da fachada. Para uma leitura da cidade no tempo e não em realidades falseadas.

3.3. “Se o século XIX foi o século do ferro e o século XX foi o século do betão armado, então o século XXI é o século dos produtos derivados da madeira”

Professor Alex de Rijke com a frase “If the 19th century was the century of steel and the 20th century the century of concrete, then the 21st century is about engineered timber”, enfoca a evolução das estruturas dos derivados da madeira. Enumera as várias vantagens da utilização de técnicas de construção em madeira: no conforto, eficiência energética, ciclo de vida, rapidez de construção, durabilidade, resistência, etc. (Rijke, 2015). Confere a importância às estruturas em madeira, na resolução da problemática da sustentabilidade da construção.

3.4. A “evolução” das técnicas de arquitetura vernácula em madeira

No contexto em que se insere a evolução das estruturas de madeira o autor J. Vaz, na sua investigação “Madeira como material predominante na construção em Portugal: O caminho da vernacularidade” pode ser o elo entre as técnicas vernáculas e as contemporâneas. Pois além de identificar um conjunto de técnicas construtivas em madeira puramente portuguesas, caracterizando soluções testadas e erros cometidos na construção e manutenção desses edifícios (Vaz, 2010). O que se torna importante, para uma seleção otimizada das técnicas, para a sua aplicabilidade nas construções contemporânea. Nessa seleção os autores Alexandre Bahamón e Anna Vicens, no livro Cabana: da Arquitectura Vernácula à Contemporânea, intervêm numa configuração mais formal na relação da arquitetura vernácula em madeira, com as soluções contemporâneas. Que de algum modo refletem ou reinterpretam as suas características (Bahamón e Soler, 2008). Um contributo para a observar como se apresenta hoje, a evolução das técnicas de construção em madeira.

3.5. O reduto para a sustentabilidade da construção

Os investigadores Manuela Almeida, Marco Ferreira e Ana Rodrigues no relatório para a “Definição de nZEB em Portugal - Contributo com base em análises de custo de ciclo de vida”, apresentam as soluções que se consideram ótimas e rentáveis para a envolvente dos edifícios nas três zonas climáticas em que Portugal está dividido. Analisam as diferentes fontes de energia renováveis contemplando como é exigido na definição da nZEB: a rentabilidade no ciclo de vida do edifício. Fazendo um estudo comparativo das diferentes soluções, na procura da rentabilidade ótima para um período de 30 anos, com o respetivo custo global: custos do investimento; custo de manutenção e custo da energia (Almeida, Ferreira, & Rodrigues, 2016). Na leitura a esta investigação, ao introduzir a construção em madeira, no que se refere à análise do custo de vida e ao consumo energético dos edifícios, verifica-se que pode ser o reduto para a sustentabilidade da construção.

  1. conclusão

Num tempo de grandes avanços tecnológicos na indústria dos produtos derivados da madeira, é importante fazer um exercício de reflecção às técnicas da arquitetura vernácula em madeira, pois são a alma do nosso edificado e a memória coletiva de um povo. O conhecimento das técnicas não se opõe à evolução tecnológica, mas sim um aliado à hora de intervir no edificado, quer seja no restauro, reabilitação ou na construção nova.

Realçar as vantagens das técnicas de construção da arquitetura vernácula de madeira. Pondo à disposição do congresso, uma sinopse das diferentes soluções e técnicas construtivas vernáculas, capazes de cumprir as mais rigorosas normas e requisitos técnicos como a durabilidade, resistência, salubridade, conforto, etc. Bem como, o seu contributo para a sua aplicabilidade na arquitetura contemporânea em madeira. Abrindo um leque de soluções, que com outros materiais e técnicas construtivas, não seriam possíveis. Um exercício que se acha necessário, para poder-se evoluir para um futuro de identidade, tempo e memória.

Agradecimentos

Escola Superior Gallaecia no nome da Dra. Mariana Correia; Prof. Jorge Branco Universidade do Minho

REFERÊNCIAS

[1] Alcindor, M. (2011). La Rehabilitación limitada: el caso de las intervenciones de adaptación a los criterios de habitabilidad actual de edificaciones rurales construidas con técnicas históricas, aisladas o dentro de pequeños núcleos urbanos del Baix Empordà. (Tese de doutoramento, Universitat Politècnica de Catalunya, Espanha).Recuperado de http://www.tdx.cat/handle/10803/109046

[2] Almeida, M., Ferreira, M., & Rodrigues, A. (2016). Definição de nZEB em Portugal - Contributo com base em análise de custo de ciclo de vida. Em J. Branco, & P. Lourenço (Ed.), Construir em madeira (pp. 27-38). Guimarães: Universidade do Minho.

[3] Almeida, N. (2017,Março 14). Fachadismo: a morte da (autenti)cidade de Lisboa. Público. Recuperado de https://www.publico.pt/2017/03/14/local/noticia/fachadismo-a-morte-da-autenticidade-de-lisboa-1765043

[4] Bahamón, A., & Soler A. (2008). Cabana: da Arquitectura Vernácula à Contemporânea. Lisboa: Edições Argumentum.

[5] Cenicacelaya, J., & Baganha, J. (2004). Arquitectura Tradicional e Sustentabilidade. Recuperado de http://www.jbaganha.com/pdf/pt/0201.pdf.

[6] Decreto-Lei n.º 118/2013 de 20 de agosto do Ministério da Economia e do Emprego. Diário da República: I série, Nº 159 (2013). Disponível em www.dre.pt.

[7] Ecoarkitekt. (2009). Arquitectura Vernácula. Recuperado de http://www.ecoarkitekt.com/construcao-sustentavel/arquitectura-vernacula/

[8] Guillaud, H., Moriset, S., Sánchez Muñoz, N., Sevillano Gutiérrez, E. (Eds.) (2014). VERSUS: Lessons from Vernacular Heritage to Sustainable Architecture. Booklet. Grenoble (France): ENSAG-CRAterre: 74p.

[9] Santos, J. A. (2010). A importância da madeira na construção sustentável. In: Seminário Materiais de Construção e Sustentabilidade, Coimbra.

[10] [12] Rijke, A. (2015). 21 Reasons Why Wood is Better than Other Materials. Recuperado de https://www.woodsolutions.com.au/blog/21-Reasons-Why-Wood-is-Better-Prof-Alex-de-Rijke

[11] Vaz, J. (2010). Madeira como material predominante na construção em Portugal: O caminho da vernacularidade. In IEFP- Instituto do emprego e formação profissional (Eds.), As Idades da Construção – Técnicas de construção e a sua aplicabilidade à arquitectura contemporânea. (pp. 45-59). Lisboa: IEFP- Instituto do emprego e formação profissional

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